terça-feira, 21 de agosto de 2012

*O Avesso das Coisas (Drummond) #4




>M

Machado de Assis
-A parte de Machado de Assis na personagem de Dom Casmurro é maior que a do próprio Dom Casmurro

Máscara
-A máscara ao desindividualizar a pessoa, individualiza o eu profundo

Masturbação
-A masturbação é uma forma econômica de praticar o sexo

Medo
-O medo une mais os homens do que a coragem
-Ninguém se lembra de erigir um monumento ao medo, principal responsável pela conservação da vida

Mestre
-Se o mestre não segue suas lições, por que haveremos de segui-lo?

Morte
-A morte leva em carro de ouro nossos amores defuntos
-Desde que o mundo é mundo, ninguém se convenceu ainda que morrer é obrigatório
-Surpreendemo-nos com a morte como se ela não fosse o único fenômeno absolutamente previsível
-O morto continua a viver no livro, na foto, no cassete, mas só quando nos lembramos de usá-los
-Não há vivos; há os que morreram e os que esperam vez
-O silêncio dos morto encerra terrível acusação aos vivos

Mulher
-Até de seus arrependimentos a mulher extrai novo encanto
-É próprio da mulher o sorriso que nada promete e permiti imaginar tudo
-De todas as mulheres de seu passado, o homem costuma fazer uma síntese que não se parece com nenhuma delas
-Todas as mulheres são iguais, mas cada uma é diferente da outra
-Não adianta a cor dos olhos desta mulher, se ela não olha para nós

Mundo
-O mundo é uma série de percepções que teimam em ser exatas e às vezes o conseguem
-Se o inferno existir esse mundo é o seu vestibular
-A cada indagação respondida o mundo fica menor e menos atraente
-As receitas para salvar o mundo são bem recebidas por um mundo que não pretende observá-las
-Difícil compreender como no vasto mundo falta espaço para os pequenos


domingo, 19 de agosto de 2012

*De verdade

Ao lado de um prato,
Já comido, meias sujas e
Esquecidas em cima da mesa.

No fundo de um pote de lata,
uma moeda pequena, num país
Onde não vale nada.

A geladeira que se abre
A todo momento para nada
E onde tudo permanece o mesmo.

No cibório, várias e várias
Hóstias para crentes mentirosos

-Isso sim é poesia!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

*Janela

A ponta do meu dedo
Está a descascar
E tenho medo
Que todo eu seja novo
Daqui a alguns dias

Mas qual me é
O problema de ser novo?
Perder tudo que tenho?
E que é tudo que tenho?
Talvez seja nada...

Em minha casa
Havia uma janela no teto.
Uma vidraça difícil de se limpar,
Porque era muito alta,
Mas eu sempre limpava bem.

Até que um dia
Uma pedra irrompeu por ela
E eu me cortei um pouco
Com os cacos
Que caíram no chão.

Foi ai que pude
Pegar aqueles belos cacos
E examiná-los de perto,
Com cuidado,
Um a um

Estavam ensebados,
Quase todos eles.
Então não repus a vidraça,
Nem procurei quem atirara
A simples pedra. Não importava.

Dali em diante
O sol, a lua, o vento e a chuva
Entravam quando queriam
Lugar nenhum melhor
Para vasos, que flores, ali, conceberam.

Espero que mais coisas
Me entrem pela janela
E me obriguem a mudar a sala,
Assim não me entedio
E não canso dos dias.

Pensando bem...
Espero terminar de descascar logo
Assim não entedio de mim
Afinal só o eu e o que vivi
Me faz parte, nada mais...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

*Aqui dentro é outro mundo

            É, eu fazia, de novo, todas aquelas aulas teóricas para tirar a carteira de motorista, de novo.
            E tinha esse professor que era bombeiro. E tinha essa ninfa do meu lado.
            Esse professor tinha uma cicatriz na ponta do nariz. Porra! Tanta gente por ai morrendo de medo de cicatrizes e esse cara com uma bem na ponta do nariz? Que sorte! Qual é a graça de não ter cicatrizes? Povo burro!
            Acontece que esse professor era sério. E eu tinha lá poucas cicatrizes, louváveis só pela dor que causaram no dia-a-dia. Mas aquela: na ponta do nariz, parecia que apontava bem pra minha cara! Como que denunciando minha pele lisa. Sem história. Que merda, bela merda. As histórias que eu tinha eram de poucas ou mais vergonhas. Tá bom, vá lá, tinha muita risada também. Tinha muita história boa.
            Eu tinha chegado lá com minhas pernas, mas sem mérito meu. Mas vá lá, dane-se, a culpa não é minha.
            E essa ninfa do meu lado nunca falava nada. Era uma voz que saia por uma fenda nas pedras. Que raiva…todo aquele pecadinho pra nada. Não tinha cicatrizes ou histórias pra contar. Bela merda! Mais um produto organicamente industrializado. Era como uma foto de um quadro de Dalí ou Picasso: não era arte.
            Eu passava a tarde inteira naquela sala. Entrava lá pelas 13h40min e saia às 18h50min. Ô dia ruim…
            A manhã é branca e a tarde é colorida. E tinha uma larga janela na sala da onde dava pra ver a tarde correr nos carros, no comércio, nas pessoas e no mundo lá fora. Eu adoro a tarde. O sol fazia pilhérias de mim. Dava pra ver ele rindo daquele jeito escroto que faz coçar o ódio na consciência (ou inconsciência) da gente. Mesmo amigos fazem isso; e ele era meu amigo. Mas amigos a gente perdoa; os outros: ou se dá uma porrada na cara, ou foda-se alguns dias depois (ou não se esquece).



            Ô dia ruim, ô dia sem jeito. Mas é só um dia; após outro e mais outro e amanhã tem mais um e uma hora acaba e pronto. Acabou.
            E eu e a ninfa não tivemos nada além de aulas naquelas todas tardes que correram. Acho que podia torná-la uma obra de arte de um jeito ou de outro. Que pena, ninfa, você perdeu…e eu nem a conhecia; que belo artista eu sou…
            Tinha um cara, também, que não parecia ter sido beneficiado pelo destino, mas dane-se também, a culpa lá é minha? Quem se importa? Que é ele? Foda-se! Sou artista e o 

dia lá fora é lindo! Danem-se os homens.
            Aquele sim era um pecado, há não ser pelos pés, mas foda-se também.
            O dia lá fora é lindo e é só um dia. Um só hein?!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

*Domingo da tarde

Eu vi um outdoor da janela da cozinha
enquanto enchia a garrafa d'água
no domingo quente da tarde.
Nele estava escrito: "Pós-Graduaçãn"

Pensei: "Não acredito! Que gente burra é essa?"
Mas ai percebi que mais um poste
se transpunha em minha vista
E li: "Pós-Graduação"

-O mundo inteiro é um lugar pequeno

sábado, 28 de julho de 2012

*Fio

Não se foram feitas
As duas pontas para
Amarrar. Nem nada.
O barbante é o mesmo.
O se ver no espelho
Transfigura o modo
De estender-se à fila
Do caminho certo
Da certeza unânime.

Não aconselho nisso
Que apeteça a si
De exclusivo o resto
Desse estranho fio,
Quando mais se logra
Por tornar o fio
Uma corda frouxa
E serpente e grossa

Mas não esqueça nunca:
O sentido do
Mar é não sabê-lo
E ainda assim buscá-lo.
Ou se esqueça então
Se quiser. Não importa.

A peleja é o que
Dela se fizer.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

*Tanlinocelo


Cecília, tuas pérolas,
Jamais as encontraria
Se não em teu olhar oceânico.
Tuas mechas, cascatas
Que salpicam todo o ar
E rosto de doçura sensual.
Néctar inebriante.

Cecília, teu sorriso és pleno
Nem muito, nem pouco,
Pleno, e mira o infinito
Como matutar sozinho.
Tuas fotos, ah!
As tuas fotos são risos
De criança. Hilariantes e belas.
Como um som eterno,
Ecoante, um mantra.
Como harmônicos
De um violão
(E por falar em violão!)

Veja o arranjo dos detalhes!
Cristas e marolas suaves
Encantam o meu suspiro
Como fosse uma sinfonia
Como esfregar tecido felpudo
(Felpudez!)

Cecília, vejas as formas
As formas,
Dos violinos e tambores
Um violoncelo? Talvez, algo parecido
(Lindo e elegante!)
São tantas as curvas…
(Impossível não falar delas!)
Violinos e tambores
E um violoncelo…
Tanlinocelo? Talvez

Cecília, nome de ressaca
Ar de ressaca
Curvas de ressaca
Sorriso de ressaca
(Mandíbula que trava)

És tu
Mais forte que vinhos
E marés
És tu, és ressaca
És Cecília










sexta-feira, 25 de maio de 2012

*Um pouco de Jim #2









Back door man - The Doors
Wha!
Yeah!
Come on, yeah.
Yeah, come on, yeah.
Oh, yeah..
Yeah, I'm a back door man.
I'm a back door man.
The men don't know,
But the little girl understand.
Hey, all you people that tryin' to sleep,
I'm out to make it with my midnight dream, yeah,
'Cause I'm a back door man.
The men don't know,
But the little girls understand.
All right, yeah.
You men eat your dinner.
Eat your pork and beans.
I eat more chicken
Than any man ever seen, yeah, yeah.
I'm a back door man.
The men don't know,
But the little girl understand.
Well, I'm a back door man.
I'm a back door man.
Whoa, baby,
I'm a back door man.
The men don't know,
But the little girls understand.

*Muito Foda #2




*O Avesso das Coisas (Drummond) #3




>S




Sol
-O Sol está a nosso serviço, mas não nos obedece.
-A arrogância do Sol torna insuportável contemplá-lo.




Solidão
-A solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos.




Soneto
-O soneto vinga-se dos versejadores recusando-se à forma impecável.
-Soneto: arma do poeta que se vira contra ele.






Sonho
-Não interprete o sonho; viva-o ou esqueça-o.




Sono
-O sono guarda nossas angústias e decepções para devolvê-las no dia seguinte.
-É um alívio sentir, ao acordar, que não fomos devorados pelo sono
-Não custa admitir que os criminosos se tornam inocentes durante o sono.




Superstição
-Os gregos criaram o Destino, só nos restando criar as superstições.




Surrealismo
-O surrealismo incorpora à consciência a negação da consciência.

*A flor da montanha

O Dia está no fim
E ele ainda pode voltar
Dane-se o que vão pensar
Porque ele ainda pode voltar
O maior causo de todos

E de que falava mesmo?
Ah, sim, de voltar
Mas mais importante
Que voltar ou não
É ter a possibilidade
De voltar

Mas nunca se pode voltar
Mas imagine só as possibilidades!!
De se esfumaçar por lembranças
Em um quarto vazio
Onde minha perna titubeava
E eu a balançar
No quarto escuro onde
Eu ascendera a luz
No fim de um dia
Longo e sem tempo

E de que falava mesmo?
Ah, sim, de possibilidades
De Pessoa
Que se cruzava na rua subida
Questionando a realidade
De um papel distante e passado
Atônito à perplexidade de si
Se perguntando sobre o céu
Atras da rapariga que olhava
De baixo da janela

Inspiração ou sentido?
Que faço de mim?
Nestes versos tão simples
Tão rasos e ventos ao cabelo
Numa paisagem ampla
Que distancia o olhar
E da linha ao que se pensa
Sobre qualquer cosia
Tudo sobre o que há
A mais no mundo

Sobre
Os ventos que regam
De flores o chão das árvores
Pra ver se entendamos
De que se trata tudo isso
Mas mais importante
Que compreender o sentido
É o verbo
Que se parece com o vento
Que só é enquanto sopra
E só sopra enquanto é

Mais importante
Que compreender o sentido
É entender o entender
De apenas ser enquanto é

E de que falávamos mesmo?
Ah, si, nem sei eu mais
Acho que de poesia
Que só é enquanto sopra
Apenas poesia
Como ventos a rugir
E versos a clamar

domingo, 20 de maio de 2012

*Chão gelado

Tantas coisas que meus olhos ja viram
Se fazem pequenas
Quando de fronte a tantas que verei
Neblina
E aqui
No chão dos meus pensamentos
Eu voo baixo a fazer metafísica
Não sei o que
Ao certo
Metafísica é
Mas só de pensar que faço
Já estou fazendo
Aqui
Nos campos de nuvens
Tão sonhos e reais
Até onde os olhos podem ver

Deito-me neste chão gelado
Sinto-me gelado e dormente
Até que me dissolvo no chão
E não sou mais gelado
Sou só o chão e nada mais
Nem pensamentos
Mas volto a tudo
Como quem abre os olhos
E enxerga realidades possíveis
Paralelas e invisíveis
Românticas e imaginárias...

*Inimigo íntimo

O mar
O universo
O fundo do universo
Que é muito grande para ideais
Versos e papéis
Canetas e tintas,
Cigarros e paisagens
Sentidos sem linhas
Linhas sem sentido
Emoções e olhares
Momentos e segundos
Brigas e altares
Tudo sem sentido
Desejos e prazeres
Desejos e lazeres
Desejos e dejetos
Desejos e sofrimentos
Guerras e interesses
Homens e interesses
Homens de guerra
Tudo sem sentido
Como coisas reias por fora
E vazias por dentro

Como um baú sem chave
Sem nada pra guardar
Um baú velho onde o silêncio se esconde
E o escuro se revira
Pra toda vez que abrir
Poder ser luz
Poder ser deus
Poder ser
Mas ainda sem sentido

A criação pela criação
O prazer pelo prazer
O prazer pelo desejo
O desejo pelo homem
O ser pelo ser



domingo, 13 de maio de 2012

*Eia! Salve a distração!


A bola preta surgiu no super-mercado, na sessão de bebidas. Explodiu, me sugando pelo peito para um plano alterno, onde tudo é fantasia cheirosa e poesia voadora. Sou o senhor dos planos, dos meus planos. Eia, guerreiro! Quem há como eu sou?! Quem mais golpes daria, com o tacape que iludia do ultimo sol. Eia, guerreiro! Quem há como eu sou?! Quem fritaria os pastéis da verdade? Quem abriria o baú da insanidade pra não comer pão?Eia, guerreiro! Fiquemos aqui, na sombra da montanha, na faca da visão distante, sob os destroços do castelo de tijolos de línguas, contemplando as impurezas da existência, de baixo do céu, exalando as flores da vida no ar. Eia, guerreiro! Quem há como eu sou?!

*Um pouco de Jim #1

Riders On The Storm The Doors


Riders on the storm,
Riders on the storm,

Into this house we're born,
Into this world we're thrown
Like a dog without a bone,
An actor on loan,

Riders on the storm

There's a killer on the road
His brain is squirming like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If you give this man a ride
Sweet family will die
Killer on the road

Girl you gotta love your man
Girl you gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Or life will never end
Gotta love your man.

Riders on the storm
Riders on the storm

Into this house we're born
Into this world we're thrown
Like a dog without a bone
An actor out alone

Riders on the storm

Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm








*Confeitaria

-Mamãe! Mamãe! Eu quero um doce!

Eu quero uma bomba de chocolate
Para explodir nos pampas de cerração

Eu quero um biscoito de nata
Que me atire no peito um suspiro de pão

Ah não! Ah não! Não quero uva passa!
Só vocês gostam disso! Mas você já me mostrou tanta coisa...
(E de quase todas eu gostei)

Vamos na padaria daquela vida
Quando eu ainda tinha uma infância querida
(E ainda tenho)

Mas se não fosse por ti...
Que seria de mim sem as estrelas?
Que seria delas sem mim?
Acho que sou um deus, Hegel...
Afinal, filho de deusa, Zeus o é, não é mesmo?
Ou semi-deus? Tenho até uma fantasia de Hércules

Eu quero um beijinho
Pra ganhar meu dia de menino
Esquecer as estrelas no chão
E comer meu pavê de bolacha!


sábado, 12 de maio de 2012

*Ponto Fixo

O pequeno ponto partiu
Para pôr-se ponto fixo
Propondo fetiche para viagem parcial
Pondo-me desatento para tudo
Que não seu pequeno pé

"Pra mim é como se fosse outra coisa,
uma desconhecida ou um bicho
que faz parte da mulher.
Uma sensualidade harmônica
que completa as pernas."

*Muito Foda #1


quinta-feira, 10 de maio de 2012

*Dia de Sombra

O homem do peito vai quente
Segue sem jeito, sem gente
Com cara de sol e doente
Mordido de si em si mesmo
Como não sabe o que rege
E mutilando seu couro
E quente vai, sorridente
Batendo no peito sente
Bicho de raiva, me invente
Uma alavanca de luz.
Eu to estressado. Sei lá...
Mas não há ponto que prega
Todas quimeras que voam
Deixando azedo todo o ar
E cadê tudo de mim?
Eles estão todos longe
Então sou pouco, bem pouco
Sou quase nada, um broche
Que fura o peito de faca
Será que é o tempo fechado?
Espero que sim. Vem, sol,
Vem destapar essa sombra

*O Cassino

Jogue os dados
Gire a roleta
Faça seu jogo
Dê as cartas

"Winner, winner, chicken dinner!"

Esse é o Cassino!
Bem vindo ao Cassino!
Olha que nada melhor
Que uma cidade só nossa
Cheia de ruas e vielas tão nossas.
Uma cerveja, um copo de vodka
E quem é meu, lado a lado
É tudo que eu preciso

Vento e vento e vento
E vento e mais vento
Ó, meu Deus, onde já se viu
Ter tanto vento assim?
Pra que? Por que?
Pra dar risada, porque isso da lembrança.

Cadê todo mundo? Tá frio!
Alguém ai além de nós? Tá frio!
Será que tem festa? Sempre!
Sempre? Sempre!
Iluminadamente tranquilo
Nosso caminho de árvores infinitas
 Ó Cassino, nosso Cassino!


quarta-feira, 9 de maio de 2012

*O Avesso das Coisas (Drummond) #2




>P


Política:
-Em política, 2 e 2 podem ser 4, mas não é obrigatório.
-Os políticos enganam-se uns aos outros, persuadidos de que o fazem por amor à pátria.
-Por falta de opinião pessoal, o político invoca a opinião pública.
-Para cada tipo de situação política há um discurso pronto, de que se trocam as vírgulas.
-As figuras de arte egípcia servem de modelo a uns tantos políticos: nunca estão de frente.
-Certos políticos aprendem como andar velozmente de cócoras.
-Às vezes, nada mais distante do conceito de política do que um político.
-A ignorância, a cobiça e a má fé também elegem seus representantes políticos.

Ponte:
-Uma utilidade da ponte é dar abrigo aos miseráveis junto aos pilares.

Presente:
-O presente é uma ponte ilusória entre o que foi e o que virá a ser.

Professor:
-O professor tem direito de ensinar coisas que amanhã serão certas.

Planta:
-O único meio positivo de conversar com as plantas é compreender-lhes o silêncio.
-A mudez das plantas é resposta à algaravia dos homens.
-Resta saber se a planta, prisioneira no vaso, com direito a água e fertilizante, está feliz.

Poder:
-O Poder está sempre explicando que não pode tanto assim.
-O gozo do Poder é entremeado de cólicas.
-Quem sobe ao poder geralmente não sabe descer.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

*Poema Drummondiano

Mundo, mundo, vasto mundo
Se isso tivesse melodia
Seria uma música e não uma escanção

Sonho, sonho, vasto sonho
Se isso fosse um tapete
Me levaria aos céus como um feijão

Horizonte, vasto horizonte
Que me cria silêncio
E afaga a cotidiana preocupação

José, José, vasto José
Se tu fosses José
Seria pouco, seria nada, em vão

Olhos, olhos, vastos olhos
Que te criam um ar
Que me fazem derreter, tesão

Eu, eu, vasto eu e eu
Que se vivesse em ventos
Beijaria a sétima estrofe da canção







domingo, 6 de maio de 2012

*Fotogênico

Eu to sempre bem
Mundo no vai e vem
O que importa é o riso
De quem quer lembrança
Quer sorriso e além
Me tirar? Nem vem!
Não vale um vintém!

Eu duvido e quero
De uma esquina e o mar
E daquela linha
A do fim dos olhos
Do tardar da noite
Estreita entre os becos
Infinita em praia
Da partida em sonhos
Cheiro de saudade
Com som de apreensão
E fazendo fotos
E retratos velhos
Mas que a pouco vieram
Me deixando bem
Mas bem eu to sempre
Sempre bem na foto
Sempre bem de fato
E na fita e sempre

-I'm sexy and I know it!


quarta-feira, 2 de maio de 2012

*Subterfúgio da menina

Perguntei pra menina se o problema era comigo
Ela disse que não
Mas é óbvio, nunca diria que sim
Por que haveria de dizer que sim?
Por que é sincera? Por que somo amigos?
Talvez tenha sido um acidente mesmo
A culpa não é minha

Arregaço de novo as mangas
Estão frouxas(as mangas)
E procura um cachorro comida entre as frestas das madeiras
Ou procuro eu?
E deita as costelas magras sobre as madeiras
Ou deito eu? Previsível como um barbante frouxo, que serpenteia, mas de destino certo
De novo de novo
O céu está lindo hoje
E talvez seja tudo que rejeito

Não sei o que é subterfúgio
O que são subterfúgios?
Preciso saber o que são subterfúgios...

*O eu-crú-de-hoje sobre o mundo

Hoje acordei como acordei outro dia
Mas em negativos
Vi tudo mais seco e sem estórias pra se contar
Apenas pequenos pesadelos
Que como os pingo da chuva(!!)
Me molham por todo, da cabeça aos pés
Tudo era um pouco mais cinza
Só o sol do lago é quem brilha hoje
Não vi romance, amém.
Tinha um vício
Tenho um vício
Tenho café
Tenho o café como um vício
Tenho um vício como o café
Não creio em deus, nem hoje.
Hoje acordei diferente como a cada dia
E esse caderno não é meu
Nem nada me é sujeito a posse
Mas tudo bem e ainda bem!
Pois é assim que deve ser
Se não for assim, não pode ser
(E como poderia? Impossível!)
Não deve, não teria graça
Como tem no final
Em que o vento e o sol
Pontuam a certeza de um fim
Qualquer fim, mas fim e sempre bom e tranquilo

E mais uma vez assim
Mais um nessa queda em parafuso
Com quem luto em todas as respirações
Inspira...expira...é assim
Pra sempre
Eterna sina que um dia vai me calar como um tiro certo
E essa boca escancarada cheia de dentes...
Um caro livro...amigo
Se senta ao meu lado, vem sozinho
Vem naturalmente
E eu nisso tudo?
Natural? Ou burocracia?
Ou palco? Ou natural?
Por isso que digo para me esconderem os bilhetes

E a abelha mais uma vez vem me temorizar
Por que? De novo?
Onde está o meu eu-homem?
É isso? É esse meu pensamento auto-reflexivo?
Acho que sim...
Uma música de requiem para um sonho

Mas não!
Não pode ser!
Sou mais!(Levantando)
Sou o calor, a força!(O peito aberto)
Olhos enquadrando céus e horizontes
Como queria que fotografassem...
Esse momento é bom
Como um cigarro...
As nuvens são bonitas hoje e apenas hoje
Como são quase todo dia
São loucas...

Oi, abelha! Olá! Como vai?
E a família? Tá boa?
Senta, tomemos um café e ascendamos um cigarro
Sob esse sol e o lago e o vento e o belo e o requiem
Senta naturalmente
Senta no palco?
Não, senta naturalmente
É que é como eu quero

Assim está bom.
As coisas não são mais que eu
Eu sou mais que as coisas
Acho que sou as coisas
Acho que sou como as coisas!
E eu nisso tudo?

-Assim está bom.






terça-feira, 1 de maio de 2012

*Hoje é Dia do Trabalho

>Trabalho: ato de trabalhar

-"O trabalho constitui ao mesmo tempo mais-valia e não-valia,conforme o ângulo de que o considerarmos."(Drummond);

-Fazer aquilo que não dá prazer.(Bíblia);

-Ato de imposição. Impor a si mesmo a função do dever;

-Ato de ausentar-se. Ausentar-se por até 8hrs diárias, e 44 semanais, do trabalho de pensar.(Estado);

-Ato humano;

-Sobreviver;

-Dar luz;

-Fruta;

-Vício;

-Estudar;

-Ato de ganhar dinheiro;

-Ato de sustentar a família;

Ato do pão-de-cada-dia;

-Ato de vender: lápis, caneta, borracha, idéias, o feriado, o tempo, o corpo, a liberdade, drogas, a dignidade, a alma, a Terra, o outro e tudo o quanto for possível. Ato do Capitalismo;

-Pensar;

-Andar de skate, apertar um botão, jogar futebol, lutar, fazer os instrumentos cantarem, escrever, falar, pintar, desenhar, arrumar, conversar, ouvir, obedecer, fotografar, atuar, rezar e etc;

segunda-feira, 30 de abril de 2012

*O Avesso das Coisas (Drummond) #1

>E


Educação:
-A educação faz-se com dose maior ou menor de mentiras vitais, responsáveis pela continuação da vida social.
-A educação visa a melhorar a natureza do homem, e isto nem sempre é aceito pelo interessado.
-A educação assemelha-se ao jogo, aposta no escuro.

Egoísmo:
-Somos irmãos do próximo, mas primeiro somos irmãos de nós mesmos.

Elegância:
-A elegância verdadeira vê na moda o seu principal inimigo.

Eleição:
-Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave.
-Se a maioria do eleitor é fraca, a do eleito o é mais ainda.
-A eleição é um processo democrático de escolher o melhor, o sofrível e o pior, sem distinção

*Poema Lixo

Tudo que você me falou
Se foi
Tudo que um dia já se pensou
Se foi
Tudo se foi
Todos os pensamentos são lixo e ouro
Depende de você
Depende de mim
Depende de tudo
Tudo
É o mundo
Tudo isso se desmonta
E pra ti, é afronta
A peleja é longa
A batalha é sempre
Respostas há, mas sem chão
Nada é em vão
O mundo é dos que vão

“O amor não é simplesmente o amor. Amor  é uma peça que nos falta, mas ninguém pode preencher por inteiro, ninguém tem o encaixe perfeito. E o encaixe de cada pessoa se movimenta nessa nossa lacuna fazendo cócegas de uma maneira única. Alguns encaixes não entram no nosso e outros até entram, mas não se movimentam do jeito certo, alguns são muito pequenos... o encaixe que preenche o resto é o que nos falta como seres.” 


  “Tenho notado uma vontade intrínseca a mim, cada vez mais forte, de estar próximo das pessoas. Talvez por ter um vazio interno, uma espécie de vácuo onde tudo que é meu é expulso para fora, e então sou obrigado a criar coisas constantemente, recriá-las, reciclá-las e reinventá-las. Tento não ser sozinho em momento nem um, nem mesmo nos momentos mais íntimos como no banheiro ou no banho, tento manter as pessoas comigo sempre, lembrando delas, amando elas ou até mesmo odiando, numa tentativa de criar mais coisas para me preencherem e tentar viver realmente o que há no mundo e não simplesmente existir com o intuito de criar, essa é minha máscara” 

*É o que há

Traidor, ardiloso, peçonhento
É trágico, sempre a tirar meu ar
Trauma, ferida sem poder curar
Foi trançando, rasgando o pensamento

É travessa de sangue sem sentido
Me treme, me trinca e só me tritura
No trânsito, no trem. Todo gemido
Me faz suplicar, me leva a loucura

É tragada transtornal de alegria
Vou tentando traduzir o trovão
Trama, traquina-me na covardia

Faz transviar até em pensamento
Não importa o que penso, vou continuar
Seguindo meu mantra e curtindo o momento

*Na casca de noz


Joguei fora ela, eu, o mundo, os momentos, a hora, o chão, eles, e tudo mais que me pertencia, essa viajem tinha de ser vazia pra ter alguma coisa.
O vôo da águia, do falcão. O mergulho do tubarão, da baleia, do peixe. A velocidade do leão, do tigre e o descanso. A umidade da mata fechada, e eus que ali  caçam, morrem, correm e sentem. Um mergulho de ponta no meio do marzão após um grande vôo a 15 metros de altura da mar, adentrando a solidão e a pureza da água em meio a tantos eus. O calor da savana africana, sua monotonia , alastrando sobre a realidade sem destino, sem rumo e fatal. A divindade do pico das montanhas, gélidas, com seus ventos que quando aspirados, lembram-nos da dádiva do ser cada momento, cada gesto, cada sinal, cada situação daqui. Apesar de oculto, vago e embaçado que encara constantemente, o deserto era perfeito com seu torpor ao esforço da vida que luta para ficar. A distância vazia e fria de Plutão. O amor estonteante da Lua e os paixões dela, que fazem a Terra girar para muitos, mesmo sem saberem. O calor sólido e eufórico do Sol, no ombro esquerdo, seu fogo amante, que queima em cada um, alma. A presença fiel e vultuosa de Marte e Vênus contrastando ao meu lado. Ansiedade efêmera em Mercúrio. E a distância de outras estrelas e celestes por ai, presentes e ideais como sonhos.
            Nesse momento eu era tudo e não era nada. Na cama de um quarto escuro no canto do mundo eu morri e nasci. Senti o barco alcançar alto-mar, seguir voo junto ao vento levante que esvoaça toda a minha vida sem saber. Vi vários portos para atracar, mas o verdadeiro destino estava no horizonte do meu mar, fechei os olhos.
            Meu nome era Universo, e ele flava comigo. Sabia o que queria, mas tinha de pedir mesmo assim, não sei o porquê, só sei que foi assim. Não daria nada, regeria pra que pudesse maestrar o que queria fazer, alcançar. Disse onde era o Norte, o Sul, a terra, o céu e o mar.Uma voz grave, ecoante e múltipla ouvia, pairava no ar. E de repente eu era o vôo do pássaro, o pássaro, o mergulho do peixe, o peixe, a velocidades dos corredores, os corredores e a preguiça que os abatia. Era as montanhas, os mares, as matas, as planícies, os campos, os desertos. Era o espaço, a Lua, o Sol, os planetas, os sonhos. O vento, o frio, o calor, o mar, o planeta. E todos eles eram Eu.
Tudo era tudo, nada era nada, tudo era nada e nada era tudo.
Senti a hora conectando-se a mim. Me explicando que o momento era aquele, ou , do contrário, seria perdida, seria em vão.
O ar me inflou os pulmões, preencheu meu eu e me fez lembra onde estava. Sabia o dever. Não saber. Deixar ser, levando até a vida. Abri os olhos e fui escrever para poder dormir em paz.

*Samba de convocação

Eu nunca vi
Tanta gente com pedra na mão
Tanta gente sem razão
Brigando por deus e religião

Onde já se viu
Ver credo, cor e nacionalidade
Coisa lá da Média Idade
Antes de ver nossa igualdade

Eu quero ver
Eu quero ver, esse povo crescer
E desenvolver o pensamento cego
Que faz agente perecer

Eu quero saber
Quando é que o povo vai enxergar
Que Deus é quem na Terra está
E que não há motivo pra se separar

Então vamo junto
Brincar de tiro ao alvo
Com quem tá em cima do palco
Ditando regras pra dominar a salvo


Eu quero ver
Eu quero ver, esse povo crescer
E desenvolver o pensamento cego
Que faz agente perecer

*Vocatus

Chão, chão, chão
chão, carga Deus, chão
chão, chão, chão....


Levante a mão
Levante o chão
Levante tu
Levante tudo
Levante o punho
Levante o olho
Levante, levante

Tenha a luz como sua amante
Cante, dance, avance, se lance
Há mais do que água pra lá dos mares
Há muito mais....
Muito mais altares e bares pra se conquistar
Há outras rachaduras tão lindas
Pra se emocionar e, não marchar,
Mas  deliciar-se com os quadros livres

*A casa

                                                                                   Há uma fina camada de poeira
Como se eu não a limpasse por dias
Então estou sujo a cada meu passo
E não sei onde está aquela vassoura
Não consigo ficar à vontade.
E não quero vestir o chinelo
E se achar a vassoura, não vou
Pôr nenhum, do tapete, grão em baixo
Pois eu quero queimá-lo por todo
Pra que não volte mais aos meus cantos
Nem embrulhe de novo meu quarto.

Eu preciso de um fogo que é eterno
Que me venha direto do inferno
E daquela água que me lavou
Pra que eu plane sobre este chão
E não volte a sujar-me do pó.

*Manifesto Nebuloso

Que aconteceu com meus versos que não se alinham mais?
Fugiram, desapareceram, se escondendo atrás das árvores
Entre os arbustos e pequenos pastos
Me deixando completamente só

E pra cada sopro de inspiração,
Com vontade e disposição infinita, um vazio se instala
Infinito, e então um vento gelado sopra
Fazendo estalar a casa e os móveis

Ó nebulosa minha dos pensamentos,
Que faço eu sem letras?
Mande para cá meteoritos
Que destruam tudo
E que lapidem o mundo!

*Vívido, lúcido e lindo


            Vejo uma história de amor
            Nos gracejos de uma moça
            Normal e qualquer de lábios
            Lábios, claro, e não um pacote
            Cada lábio que me cruza,
            quando me é jovem e lindo,
            as vezes grossos ou não,
            Vejo um boquete a gemer
            Sim, um boquete completo.
            Vívido, lúcido e lindo.
            Para cima e para baixo
            Com beijos, língua e risos.
            Quem me dera agora mesmo,
            os prazeres de um boquete.
            Vívido, lúcido e lindo

*Ópera versada

E como num único sopro
Leve e tanto
Assim fez-se meu pranto
Mas único e brilho
Grito certo como um canto, que segue um trilho
Que vem do rio, natureza e floresta
Um santo e pra tanto, vim aqui
Fazer-me sorrir, mas não eu
O santo, eu, escuro e vapor
Divindade que levanto
Ofereço aos céus e nuvens
Para o mundo e pra tudo
Para todos, o meu canto
Para sempre quero avanço
O meu, o ontem, o seu e o hoje
Mas por enquanto e apenas por enquanto
Eu vou de tanque e bomba
Atacando de sangue e sombra
De ulalá na minha conta
Pra ver se eu viro um santo

E que um dia, com luz e fogo
Pro céu eu vá decolando
Como um grande homem no passado
Subiu e foi lembrado
Mas que os pequenos, dessa vez

Ouçam que deles veio a harmonia do meu canto

*Olhar vivente


Como agradecer? Como vou brindar?
Mesmo com os pesares deste mundo
Posso sorrir frente ao valoroso ar
Penetrar o céu adocicado mais fundo

Ai, ai! O mundo sempre está a girar
Sempre mudando tudo a sua frente
Mesmo vezes rápido ou devagar
Só orquestrar o momento sabiamente

Noviços do doce néctar do olhar
Tolos dos pequenos enganos da mente
Mas sempre artistas aprendendo a amar

Não posso continuar neste pintar
Não sei se fui claramente eloquente
Mas vou continuar, o mar, a pintar

*Risos na rua



            Vapor dos passados
            Eu sinto a lembrança
            A vista da rua
            A lua e seu frio
            E os carros vivendo

            Os risos e vozes
            descendo na rua
            em jovem esfera
            com passos sem pressa
            me vêm de repente
            no real quase morto

            Eu nunca pensei,
            meu Deus, sentir falta.
            Daquela uma rua
            Descê-la no frio
            da noite meio rindo
            com meus companheiros

            -Saudade de casa  

domingo, 29 de abril de 2012

*Versos livres, rimas pobres


O fruto da imaginação
Do nada criou-se
Para que assim pudesse
Imaginar como seria
O que sempre sonhou-se
E para que assim pudesse
Transformar-se no Tudo
Que sempre quis que fosse

E esse Tudo que passei
A te chamar, desmanchou-se
E assim não pude te escrever,
Nem te falar qualquer tolice
De amor que fosse 

*O chato


“Tenho estado desconcertado, muito pensativo. Como alguém quem não consegue viver efetivamente e tem de produzir um relatório mental sobre exatamente tudo, qualquer sensação ou emoção, como que uma análise científico-poética a lazer artístico. Ah, esse veneno!(de Rubem Fonseca). O veneno dos venenos! Como alguém que formula pensamentos concretos, reflexos e desenvolvidos dentro de si, mas não consegue lhes fazer em versos e palavras ao seu gosto. Tenho estado chato para tudo, sem paciência com a vida, como se aquilo que está para acontecer já fosse previsivelmente entediante, e, por isso, tenho me refugiado em livros e histórias adjacentes aos meus pensamentos.
                Mas, notei algo diferente hoje. Notei que apesar de minha chatice impregnada nos meus confins, como um cheiro forte de pimenta lhe ardendo os olhos e narinas, estou sendo solidário ás pessoas com quem simpatizo, e seco, talvez até ríspido, com os que não vou com a cara ou tenho algo contra de fato. Como que para proteger algo dentro de mim, uma criança que ri, me agradando, para os atos contemporaneamente heróicos, pelo menos para mim, que faço com essas pessoas a minha volta. Ou , que talvez seja mais estranho ainda, estou a fazer com essas tais pessoas como que para contar para meus filhos no futuro, como meu pai fazia e faz comigo, como que para lhe mostrar os caminhos que segui e que acho certos por algum motivo, ou até para ele poder discordar e eu aceitá-lo como ele será. Odeio dizer isso, mas preconceitos e certos padrões de pensamento antiquados das famílias, me salvaram de ser o que não sou e não queria ser, apesar de ter um potencial considerável para tais, posso dizer até, que tenha medo desses outros possíveis ‘’eus’’.
                Tenho percebido também que talvez não esteja me tornando quem eu quero ser realmente, e pior ainda: percebi que não sei mais ao certo quem eu quero ser, e ainda: que não sei se quero saber quem eu desejo me tornar. Mas isso talvez faça parte das minhas histórias paternas futuras. Aliás, cheguei a uma certa conclusão no banho: talvez, eu tenha desenvolvido uma necessidade de me tornar pai (não que isso me faça ser melhor que o outros), como que para ter alguém realmente a quem proteger e ensinar e ter o prazer de poder ver aquela vida feliz e realizada, e sentir-me feliz por isso, como espero que meu pai se sinta por mim, apesar de talvez não ser ou estar me tornando quem ele desejava que fosse. Notei que desenvolvi essa estranha e natural vontade de representar essa figura paterna presente e forte que vejo. Como na natureza, onde a criatura nasce, se desenvolve, se reproduz, passando seu gene, sua vida, seus conceitos e tradições para seus descendentes para perpetuar-se na roda viva do tempo, onde avô criou o pai, que criou o filho que tornou-se avô e pai criando e protegendo filhos e netos, e que morreu com um leve sorriso no rosto de paz e realização, como alguém que descobriu seu dever e sentido na Terra. E aquele que não fez isso, talvez não se encaixe no ‘’natural’’, mas não está errado, ao não ser que tenho sido vil e mesquinho para com a vida próxima, simplesmente encontrou em outros meios seus filhos, onde se fez pai e avô’’

*Servo ou senhor?


Será? Por que? Não?
Sim? Depois ou já?
Você ou eu? Nós ou eles?

Foi o bolo de chocolate com leite
Cadê meus poderes? Estão aqui.
Rumo ao céu, ziguezagueando no tempo.

Me deixe em paz! Mas peço, não vá embora…
Tire as pilhas do relógio por favor
E também apague as luzes pra mim

Quem me garante o sossego sereno?
Por que você? Por que não apenas eu?
De quem é esse lugar? Meu que não é

Me empresta esse teu gosto que é de amargo
Por que você também não prova dele?

Sou livre e sei que sou? Será que sou?
E me anote também o que não sou
Mas me esconda pra não perder a graça
Só sei que as coisas perdem o sentido

Ó casa bonita, por que não somes?
Pra eu viver com os valorosos homens
Os que não têm vida e não têm nada

E então levanto minha espada de água       
Pronto para retirar o que não é arte
Para matar os dragões que me queimam

Diga-me o que é certo e errado. Lapida-te!

*Ulísses


Estou longe de casa, desbravando mares desconhecidos onde criei adamastores para me atormentar. E como um herói, sempre com medo, continuo a adentrar terras incondicionalmente paradoxais, onde a incerteza facilmente confunde-se com o errado e aquilo que é belo discerne-se como o mal caminho.
            Estou perdido, estou trilhando meu caminho. Longe de casa.

*Metasia


Poesia, estar-se só quando acompanhado
E o silêncio faz-se do barulho
Como um atordoado de consciência
sobre aquilo que se está
refletindo para si o que realmente é

Poesia, a nudez do poeta
suja nos íntimo de si mesmo num canto escuro
tanto nas folhas quanto em palavras
Talvez os riscos ícones
De uma mente em forma
humilde e crua, o que não é.
Um eterno paradoxo levante

Aquilo que se criou por si
Como pensamentos vivos
Ou natureza encarnada,
Mas simples dizeres proféticos,
verdadeiros do mundo de fora
O que se escuta, se vê e sente  

*A Fazenda



Da seiva bruta da pedra escorrida onde a macaca fuma, eu aprendi.
Que o tiro foi dado e a onça não espera a capivara dança.
Quero que o quero-quero queiras que tu me quisesse quando quase quis não te querer.
Olha a galinha voando onde o gato não come. Aqui cachorro come na mesa.
A casa é simples, parece que é de barro. No teto tem três pontas de tristeza, são pequenas, nem faz nada, mas eu tenho medo.
De manhã o céu ta molhado e a terra ta fria. Pra bebe tem que tirar o lençol do leito no fogo.
Ali mais pra baixo tem monte de água que o dono fez onde agente toma banho de vez em quando, já secou uma vez, deu pra passar andando junto com ele.
Monto no cavalo e esqueço da estrada, só miro o horizonte, ai eu viro vento e a velocidade banha meus ouvidos. Esqueço de volta.
Saudade de lá.

*Desamor

  Vinda de uma vontade
            nascente de um sonho,
            fascínio infantil,
            Eu enfeitei seu nascer
            feito em mim

            E de teus amores
            fiz meus prazeres
            E de tuas curvas
            fiz meus amores
            Onde eu escorreguei

            De olhos fechados
            essenciei-me a vida
            em gostos cheios
            de amor ingênuo
            e sonhos vividos.
            Amargo foi o tombo

            E de teus amores
fiz minhas dores
E de tuas curvas
senti minha criança
de onde amores amargos
tatuou o coração